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segunda-feira, 17 de março de 2014

Mais 2 “dessa gente”, que usa agenda e calculadora…

O Manifesto propondo a reestruturação da dívida foi conhecido no mesmo dia em que o INE revelava os resultados da política levada a cabo pela troika com a cumplicidade entusiástica deste governo.
Viriato Soromenho Marques
Como se fosse uma lista de baixas numa guerra, ficámos a saber que o PIB do país recuou ao nível do ano 2000 e o emprego tombou até ao ano de 1996. Em 2 anos e meio foram destruídos 328.000 empregos. Tudo isto para combater uma dívida pública bruta excessiva, que, no mesmo período, subiu de 94% para quase 130% (ultrapassando em 15% as precisões da troika)! Este Manifesto limita-se a olhar a realidade de frente: o País caminha para o suicídio, e é preciso mudar o rumo. No quadro europeu. Pesando o interesse de Portugal, mas também o interesse comum do projecto europeu, de que muita gente, em Bruxelas e Berlim, parece ter-se esquecido. Perante isso, o primeiro-ministro, e uma escassa legião de escribas auxiliares, acusam os subscritores do manifesto de "pôr em causa o financiamento do país", de "inoportunidade", e, até, de falta de patriotismo. No século XIX, dois grandes europeus, Antero de Quental e Nietzsche escreveram, ao mesmo tempo, quase a mesma coisa: o que separa os homens é a maior ou menor capacidade que têm de "suportar" a verdade de que depende a dignidade da vida. A verdade dói, mas a mentira mata. Tenho muito orgulho em ter assinado este manifesto ao lado de Manuela Ferreira Leite, ou Bagão Félix, pois a diferença crucial não é entre esquerda e direita, mas entre a verdade e a mentira. O que une este governo, e o atual diretório europeu, é a ligação umbilical entre o seu poder e a mentira organizada. O país e a Europa só poderão sobreviver se forem resgatados de líderes medíocres, com fobia da verdade.
O Governo e seus fiéis, qual escola de aprendizes de feiticeiros, transformaram o chamado manifesto dos 70 numa espécie de Voldemort, o Lorde das Trevas da saga Harry Potter.
Nuno Saraiva
Os papistas do costume, vendo a tese da inevitabilidade do empobrecimento posta em causa, sobressaltaram-se, rasgaram as vestes e atiraram-se aos subscritores dizendo que são um bando de irresponsáveis defensores do calote e que estão para nós como a brigada do reumático para Marcelo Caetano. Fizeram apelos lancinantes para que saiam da frente e deixem os sabichões mais novos trabalhar. Que são tristes, ressabiados, oportunistas e que não passam "dessa gente" a cuja "conversa" os mercados não dão, felizmente, ouvidos.
E o cúmulo da falta de pudor, de vergonha e, até, de canalhice chegou ao extremo de se insinuar que personalidades como Adriano Moreira, Bagão Félix, Manuela Ferreira Leite, Carvalho da Silva, Vítor Martins, Sevinate Pinto, António Saraiva, Vieira Lopes, João Cravinho, Teresa Beleza ou Francisco Louçã, para citar apenas alguns nomes, não são patriotas.
Para começo de conversa, sejamos sérios.
Nunca ouvi ninguém fazer insinuações sobre o patriotismo (ou falta dele) - e era o que faltava que fizesse - de quem, resignado com a perda de soberania, vai todo contente, a Berlim ou a Bruxelas, prestar vassalagem à senhora Merkel.
Manda o rigor - que faltou, aliás, ao primeiro-ministro e a muitos opinadores do regime - que se comente apenas aquilo que está escrito. O que o manifesto, o tal que como o vilão das novelas de J. K. Rowling "não deve ser pronunciado", constatou foi aquilo que toda a gente já sabe: a dívida pública portuguesa é estratosférica. Condena-nos, como explicou com clareza o Presidente da República no seu último prefácio, a décadas de austeridade para garantir a sua sustentabilidade. E aponta, por isso, uma proposta de solução - não será a única, mas é um princípio: uma "reestruturação responsável" da dívida, no contexto europeu e dentro do nosso quadro constitucional.
Em nenhum ponto do documento se fala de não se pagar o que devemos ou se sugere, sequer, um perdão de dívida. O que se pretende é o que está escrito, é saldar, até ao último cêntimo, os compromissos assumidos com os nossos credores, obviamente em melhores condições do que aquelas que hoje existem. Isto é, com juros mais favoráveis e com maturidades mais longas, permitindo compatibilizar o crescimento económico e a criação de emprego com o cumprimento das nossas obrigações.
Só por cobardia, servilismo, submissão à ditadura ilegítima dos mercados, sectarismo ideológico e obediência cega a outros interesses que não o dos portugueses é que se pode rejeitar o debate sobre uma matéria que é decisiva para o nosso futuro coletivo. E só por uma qualquer pulsão totalitária é que se faz apelo a esta espécie de asfixia democrática, em que se manda calar quem se atreve a pensar, propor e chega a um consenso alargadíssimo - da direita à esquerda - para encontrar soluções para o mais grave dos nossos problemas.
Falar do pós-troika não é outra coisa que não seja discutir como lidar com o monstro da dívida pública portuguesa. Ainda para mais quando, a partir de setembro, as novas regras contabilísticas impostas pelo Eurostat atiram a dita para uns inimagináveis 140% do PIB nacional.
Daí que a campanha para as eleições europeias de 25 de maio seja, ao contrário do que afirmam os oráculos nacionais que vivem capturados pelos mercados e pela finança, o tempo certo para fazer este debate. Até por uma razão que toda a gente percebe: a austeridade estrangula a economia que não cresce. Sem crescimento não há pessoas. E sem pessoas que produzam não há dinheiro para honrar os compromissos. E a inevitável negociação, é bom que ocorra enquanto ainda temos condições para pagar o que devemos. Se esperarmos muito mais tempo, além de condenados ao degredo económico seremos também, fatalmente, rotulados de caloteiros.
Por tudo isto, por Portugal, venham daí mais 70, se faz favor.

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