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terça-feira, 4 de junho de 2013

Os (auto)elogios de Schaüble são insultos disfarçados

Alguma teoria de Slavoj Zizek que nos pode dirigir a análise dos meros indivíduos para a estrutura que fundamenta o capitalismo: "O destino de estratos inteiros da população e algumas vezes de países inteiros pode ser decidido pela solipsista e especulativa dança do capital que persegue o seu objecivo de rentabilidade com uma abençoada indiferença no que diz respeito à forma como o seu movimento afectará a realidade social. Nisso reside a fundamental violência sistémica do capitalismo […] que já não é atribuível a indivíduos concretos e às suas "más" intenções mas que é puramente objectiva, sistémica, anónima". Zizek, 2006.
António Pinho Vargas
Estará certo muito provavelmente o que Zizek escreve e isso explicará porque é que muitas decisões nos parecem estúpidas ou exasperantes, a nós "os comuns". Mas não são nem uma coisa nem outra. São movidas pelas razões que estruturam e regulam o próprio funcionamento do capitalismo. No entanto, não há capitalismo sem agentes que o ponham a funcionar, sem pessoas que o manipulam nas bolsas, que obedecem cegamente aos interesses do capital do qual beneficiam, que fazendo parte das gestões e entidades bancárias e financeiras que estão no centro do funcionamento do capital, acabam por realizar "as acções humanas" que o colocam em funcionamento. O capitalismo não funciona por si só. Precisa de pessoas movidas pela pulsão de acumulação que o caracteriza. A forma como isso afecta a realidade social, os sofrimentos que provocam, não os comove, a não ser quando deixar de haver pessoas para produzir, trabalhando, a riqueza real. Sem trabalho não há riqueza; é ela que cria, reproduz e alimenta o dinheiro que depois os especuladores, o FMI, o Banco Mundial, etc., se encarregam de (re)distribuir não em função de uma ideia justa de sociedade, mas em função dos lucros inebriantes que se transformam na sua razão de viver. Nesse momento podem aparecer, na aparência e nos discursos, as suas "preocupações sociais", simplesmente porque foram longe demais no seu projecto de empobrecimento e destruição de populações e países inteiros.
Aí recuam, negoceiam.
Se compararmos as várias resistências na Grécia, de que tenho tomado conhecimento, desde 2008 até hoje, ou mesmo em Espanha, com as similares em Portugal, pode-se concluir que não estão de modo nenhum no mesmo patamar de combatividade. A história ainda não acabou mas até agora esta conclusão - a que chamam "paz social" - faz parte das razões que levam os opressores a elogiarem Portugal. Pensarão secretamente: "eles aceitam tudo...". Sabendo que há forte empenho e muitas lutas corajosas em vários sectores - que admiro - não me parece que os (auto)-elogios do sr. Schaüble possam ser recebidos senão como insultos encapotados.
A Grécia lutou, sofreu, está de rastos, mas pelo meio conseguiu um perdão parcial da dívida. Conseguiu! Quis fazer um referendo sobre ficar ou sair do euro e o medo instalou-se em Berlim; foi impedida de o realizar pelos "democratas" da dita UE que virou mais em entidade administradora de juros do que uma união merecedora do nome que ostenta. Temos ouvido falar da Grécia? Não muito. Sabem porquê? Porque apesar dos imbecis que diziam e repetiram mil vezes "nós não somos a Grécia" - que vergonha que sinto - convencidos não sei bem de quê, o facto é em alguns daqueles índices de que tanto gostam, a Grécia, apresenta já melhores resultados. Tomem lá!
Se a estrutura que move o capitalismo é igual em todo o lado, os seus agentes, políticos e económicos não são todos iguais em todos os países.
Nem os povos.

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