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terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Gaspar: “Mais tempo para ir buscar mais dinheiro”?

Vítor Gaspar vai esta manhã pedir aos parceiros do Ecofin um alargamento do prazo das maturidades dos empréstimos no âmbito do FEEF. Este pedido vem na sequência do apelo dirigido ontem à noite aos membros do Eurogrupo, para que as maturidades dos empréstimos do MEE sejam alargados.
O presidente cessante do Eurogrupo, Jean-Claude Junker assegurou que a Comissão e o grupo de trabalho que prepara as reuniões “vão estudar os problemas” decorrentes de uma extensão das maturidades. Vítor Gaspar diz-se confiante e com uma “expectativa fundada” no aval dos parceiros europeus, em relação ao pedido de Portugal. 
Como argumentos, o ministro das Finanças destacou que o governo “cumpriu e cumpre os compromissos” e salienta a “boa execução do programa de ajustamento” constatada em “6 avaliações” da ‘troika’. Jean-Claude Juncker diz-se “obviamente satisfeito que os ajustamentos feitos por Portugal estejam a reflectir-se no sentimento dos mercados e numa significativa redução das taxas de juro”
Mas o ministro português das Finanças avisou que Portugal vai enfrentar quatro momentos “mais difíceis” em 2014, 2015, 2016 e 2021, anos em que o país enfrenta uma concentração de pagamentos “muito considerável”.
Sensível aos argumentos apresentados pelo ministro português, o comissário europeu para os Assuntos Económicos e Monetários prometeu “preparar e apoiar o regresso da Irlanda e Portugal aos mercados financeiros”.
Por sua vez, ministro Vítor Gaspar recordou aos parceiros europeus que, “em julho de 2011 se comprometeram em facilitar o sucesso da Irlanda e de Portugal e dos seus programas de ajustamento” desde que ambos os países “estivessem a respeitar a condicionalidade”.
Finalmente, Gaspar “vira o bico ao prego”, deixando de insistir no “nem mais tempo, nem mais dinheiro”, reconhecendo, sub-repticiamente, que falhou!
E vem dizer, justificando-se (dentro da sua competência humilde), que 2014, 2015, 2016 e 2021 vão ser anos difíceis, o que já devia saber há muito, mas ocultou (dentro da sua competência humilde)…
Mas mais. O ministro da Finanças vem agora dizer que os parceiros europeus se tinham comprometido em julho de 2011 a facilitar o sucesso da Irlanda e de Portugal e dos programas de ajustamento, desde que fossem “bons alunos”, o que quer dizer que já sabia desta circunstância (omitindo-a) quando dizia e repetia “nem mais tempo, nem mais dinheiro”…
Já quanto aos argumentos apresentados por Gaspar, de que o governo cumpriu e cumpre os compromissos e a boa execução do Memorando, devia dizer que FOI O POVO PORTUGUÊS que aguentou com os compromissos (pagando as dívidas e fraudes de terceiros e ainda impunes) e que em contrapartida, a boa execução do programa da troika (da responsabilidade dele) redundou num colossal desastre social e económico, sem querer ou por querer, e que continuará com as mesmas soluções, prevendo(-se) os resultados catastróficos, multiplicados pelo aumento da dose…
Gaspar bem pode limpar as mãos à parede, mas para não o fazer (dentro da sua competência humilde), remete-se ao silêncio, fugindo ao palco mediático de que tanto gosta…
Mas o problema é mesmo e só este:
O anúncio feito por Vítor Gaspar, ontem no Eurogrupo, de que Portugal tinha pedido mais tempo para pagar a dívida, é uma boa notícia. Também é uma boa notícia saber que Portugal pode voltar aos mercados até mais cedo do que se previa. Mas que impacto tem isso na nossa vida real? A resposta é: para já pouco... ou nenhum.
Henrique Monteiro
Pedir aumento da maturidade da dívida significa, no estranho idioma que é o 'economês', pedir mais tempo para pagar o que se deve. Isso significa 2 coisas - poder pagar mais suavemente, o que é bom; e ficar a dever mais tempo, o que não é tão bom.
Regressar aos mercados, no mesmo idioma, é igual a poder pedir dinheiro emprestado sem, para isso, depender da troika. É bom porque garante uma maior independência do país, não o colocando sujeito às preferências de quem empresta e porque pode canalizar mais dinheiro para investimentos. É mau, porque aumenta a dívida já de si elevada. E pode ser péssimo se isso significar um abrandamento ou mesmo inversão das reformas.
Mas nada disto tem efeitos imediatos. Portugal volta aos mercados, mas os portugueses comuns continuarão a pagar impostos elevadíssimos e a ter falta de dinheiro mesmo para bens essenciais. Também o desemprego continuará a subir, ao mesmo tempo que os serviços prestados pelo Estado vão encarecer. Espero, pois, que o Governo não faça disto uma das habituais doses de demagogia em que a política tem sido fértil. Os portugueses não se entusiasmam por metas financeiras, porque aquilo que sentem nas suas vidas são as terrenas questões da economia.
Regressamos aos mercados, ótimo. Mas festejem só quando nos devolverem o dinheiro que, entretanto nos sacaram.

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