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quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Os Europeus – 5

Na noite de 25 de dezembro de 800, Carlos Magno, rei dos francos, foi coroado pelo papa Leão III imperador romano, tornando-se assim um dos mais poderosos soberanos de seu tempo.
Matthias von Hellfeld
Coroação de Carlos Magno como Imperador
Carlos Magno (cerca 747-814) partiu em direção a Roma em novembro de 799. O Papa pedira-lhe ajuda, pois não podia mais defender-se contra a oposição na cidade. Depois de Carlos Magno ter conseguido acalmar a situação e Leão III ter apaziguado os ânimos através de um juramento de purificação, ambos participaram numa missa de Natal na Basílica de São Pedro. Naquela noite, os cidadãos romanos e o episcopado presentes assistiram a um espetáculo de dimensões históricas.
Coroação inesperada do imperador?
Segundo o biógrafo da corte Eginardo (cerca 780-840), Carlos Magno ter-se-ia ajoelhado em atitude devocional diante do altar e, por trás, o papa Leão III colocou-lhe a coroa de imperador romano. O rei franco estaria aparentemente surpreso com a coroação – pelo menos foi essa a ideia que o seu biógrafo nos tentou passar. Talvez Carlos Magno tivesse, no entanto, especulado com a ideia de se tornar imperador, já que, afinal de contas, o Papa dependia de uma ajuda secular, que, na Europa, só o rei dos francos estaria em condições de garantir.
A coroa mal tinha sido colocada na cabeça de Carlos Magno, quando o Papa se ajoelhou e untou os pés do imperador. Nesse exato momento, os clérigos começaram a recitar a litania da coroação e os cidadãos de Roma a aplaudir fortemente. Com esta cerimónia, o rei dos francos tornou-se imperador romano. A região central do seu imenso império englobaria aqueles países que 1.150 anos mais tarde viriam a fundar a Comunidade Económica Europeia: França, Alemanha, Itália e Estados do Benelux (Bélgica, Holanda e Luxemburgo).
Base do florescimento cultural da França
Imediatamente após a coroação, Carlos Magno introduziu uma moeda, uma escrita e um sistema de pesos e medidas comuns na França. Em Aachen (Aix-la-Chapelle, em francês), o que sobrou das suas construções dá ideia de como aquela cidade se deveria tornar uma "segunda Roma". Carlos Magno não foi só o grande comandante que cristianizou e modernizou a Europa, mas também impulsionou as ciências. Reuniu em torno de si os mais importantes académicos da época e incumbiu-os de compilar todo o saber em curso até então, estabelecendo a base do florescimento cultural da França.
Esta "revolução cultural" esteve intimamente ligada ao mestre Alcuíno (735 – 804), um erudito britânico, com quem Carlos Magno já se encontrara em Parma, em 781. Na Escola Palaciana de Aachen, Alcuíno estabeleceu uma biblioteca com trabalhos de autores da Antiguidade. Tais obras foram copiadas em letra "minúscula carolíngia" e arquivadas.
A arquitetura da era carolíngia também se inspirou na Antiguidade. A Capela Palatina de Aachen deveria remeter à "pequena Basílica de Santa Sofia", a igreja de São Sérgio e São Baco, em Constantinopla (atual Istambul). Outras edificações oficiais da sua residência imperial em Aachen eram cópias de construções romanas.
Legado da Antiguidade salvo para a Idade Média
Este "Renascimento carolíngio" é de fenomenal importância, pois foi através dele que a França se tornou um elo de ligação entre a Antiguidade e a Europa da Idade Média. A partir daí, a "modernidade medieval" ficou definitivamente influenciada pelas ideias dos mestres da Antiguidade, pela arquitetura romana anterior a Cristo e pelas conceções religiosas de Roma e Constantinopla.
Através desta interligação da Antiguidade com a Idade Média, Carlos Magno colocou-se no mesmo patamar que os grandes heróis. O resgate do legado da Antiguidade foi um processo consciente, porque os académicos partiam da ideia de uma continuidade linear na cultura e na política. Como a sua própria cultura era constituída a partir da anterior, era coerente preservar-se o máximo possível das culturas antigas.
Carlos Magno também estava convencido da teoria dos "4 reinos", após cuja queda pairava a ameaça do fim do mundo. Com a transmissão do título imperial ao rei dos francos, o imperador e o império romanos eram mantidos em vida. Com este translatio imperii, o final do mundo era (novamente) evitado.
Em termos de conceção política, havia lógica na manutenção e apropriação parcial da cultura, arquitetura, direito, literatura e ciência romanas. Assim, o saber da Antiguidade pode chegar à Europa medieval. Tudo o que o mundo moderno hoje sabe da Antiguidade deve-se a esse "Renascimento carolíngio", que salvou a herança cultural dos antigos de ser perdida para sempre.

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