(per)Seguidores

quinta-feira, 9 de agosto de 2012

Assim é difícil ganhar à pobreza e Reagan fez batota!

Ronald Reagan famosamente disse: "Nós travamos uma guerra contra a pobreza, e a pobreza venceu". Com 46 milhões de americanos - 15% da população - agora computados como pobres, é tentador pensar que ele poderia estar certo.
Olhando-se mais no fundo, a tentação aumenta. A percentagem mais baixa de pobreza desde que começamos a calcular foi 11,1% em 1973. A taxa chegou a 15,2% em 1983. Em 2000, após um surto de prosperidade, ela recuou para 11,3%, e hoje, no entanto, há mais 15 milhões de pessoas pobres.
Ao mesmo tempo, fizemos muitas coisas que funcionam. Da Segurança Social a senhas de comida, a crédito fiscal sobre o rendimento e assim por diante, sancionamos programas que hoje mantêm 40 milhões de pessoas fora da pobreza. A pobreza seria quase o dobro do que é hoje sem essas medidas, segundo o Centro para Prioridades de Política e Orçamento.
Falar que "a pobreza venceu" é como dizer que as Leis do Ar Limpo e da Água Limpa fracassaram porque ainda existe poluição.
Com tudo isso, por que não realizamos mais? Quatro razões:
Um número impressionante de pessoas trabalha em empregos mal remunerados;
Além disso, muito mais famílias são chefiadas agora só por um dos pais, o que lhes dificulta ganhar um rendimento mínimo dos empregos que estão tipicamente disponíveis;
O quase desaparecimento da ajuda em dinheiro para mães de filhos de baixo rendimento - isto é, bem-estar social - em boa parte do país que também contribui;
E problemas persistentes de raça e género implicam uma pobreza maior em minorias e famílias chefiadas por mães solteiras.
A primeira coisa a fazer, se quisermos tirar as pessoas da pobreza, é que os empregos paguem salários decentes. Não há atualmente um número suficiente desses empregos na nossa economia. A necessidade de bons empregos estende-se muito além da crise atual. Precisaremos de uma política de pleno emprego e um investimento maior em educação e em estratégias de desenvolvimento profissional no século 21 para termos alguma esperança de romper o mal-estar económico vigente.
Este não é um problema específico deste momento. Sofremos uma inundação de empregos mal remunerados nos últimos 40 anos. A maior parte do rendimento de pessoas na pobreza provém do trabalho. Segundo os dados mais recentes disponíveis do Departamento do Censo, 104 milhões de pessoas – 1/3 da população - têm rendas abaixo do dobro da linha da pobreza, menos de 30.625 euros para uma família de 3 pessoas. Elas lutam para pagar as contas a cada mês.
50% dos empregos do país paga menos de 27.401 euros por ano, segundo o Economic Policy Institute. 25% paga menos que a linha da pobreza para uma família de 4, menos de 18.536 euros anuais.
As famílias que podem colocar outro adulto a trabalhar saem-se melhor, mas as mães (e pais) solteiras não têm essa opção. A pobreza em famílias com filhos chefiadas por mães solteiras excede os 40%.
Os salários dos que trabalham em empregos na metade inferior estão estagnados desde 1973, tendo aumentado apenas 7%.
Não é que a economia como um todo estagnou. Houve crescimento, muito até, mas limitou-se ao topo. A perceção de que 99% de nós fomos deixados no pó pelo 1,0% do topo (alguns muito mais atrás do que outros) chegou muito mais tarde do que deveria - Rip Van Winkle e pior. Foi preciso a Grande Recessão para chamar a atenção das pessoas, mas os factos já se vinham acumulando há tempos. Se despertamos, podemos agir.
Os empregos mal remunerados afligem dezenas de milhões de pessoas. Na outra ponta do espetro de baixo rendimento, temos um problema diferente. A rede de segurança para mães solteiras e os seus filhos apresentou um grande rombo nestes anos. Esta é uma causa importante para o aumento dramático da pobreza extrema nestes anos. O Censo diz-nos que 20,5 milhões de pessoas ganham rendas abaixo de metade da linha da pobreza, menos de 7.656 euros para uma família de 3 - até 8 milhões desde 2000.
Por quê? Uma razão substancial é a quase extinção do sistema de bem-estar - agora chamado Assistência Temporária a Famílias Necessitadas, ou Tanf (na sigla em inglês). Em meados dos anos 90, mais de 63% dos filhos de famílias pobres recebiam ajuda assistencial, mas esse número encolheu na última década e meia para aproximadamente 27%.
Um resultado: 6 milhões de pessoas não têm outro rendimento além das senhas de alimentos. As senhas proporcionam um rendimento de 33% do rendimento da pobreza, perto de 5.077 euros para uma família de 3. É difícil imaginar como elas sobrevivem.
Mas pelo menos temos as senhas de alimentos, que têm sido uma poderosa ferramenta anti recessão nos últimos 5 anos, com o número de recetores subindo de 26,3 milhões em 2007 para 46 milhões hoje. Por contraste, o sistema de bem-estar fez pouco para contrabalançar o impacto da recessão. Embora o número de pessoas que recebem ajuda em dinheiro tenha crescido de 3,9 milhões para 4,5 milhões desde 2007, muitos Estados na verdade diminuíram o tamanho das suas folhas de pagamento e reduziram os benefícios dos mais necessitados.
Minorias
A raça e o género têm um enorme papel na determinação da persistência da pobreza. As minorias são desproporcionalmente pobres: cerca de 27% dos afro-americanos, latinos e índios americanos são pobres, contra 10% dos brancos. As disparidades de riqueza são ainda maiores. Ao mesmo tempo, os brancos constituem o maior número dos pobres. Este é um facto que merece ênfase, pois as medidas para aumentar o rendimento e prover suporte ao trabalho ajudarão mais os brancos do que as minorias. Mas não podemos ignorar a raça e o género, quer porque apresentam desafios particulares, quer porque boa parte da política para a pobreza é fundada nessas questões.
Nós sabemos o que é preciso fazer - fazer os ricos pagarem a sua justa cota de gestão do país, aumentar o salário mínimo, fornecer assistência médica e uma rede de segurança decente, etc.
Realisticamente falando, porém, o desafio imediato é conservar o que temos. O representante Paul Ryan e os seus pares ideológicos cortariam tudo, da Segurança Social ao Medicare e a lista toda, e dariam mais isenções fiscais para as pessoas do topo. Robin Hood estaria revirando-se na campa.
Não nos devemos enganar. Não é certo que as coisas fiquem como estão.
A riqueza e a renda do 1,0% do topo crescem à custa de todos os demais.
O dinheiro gera poder, e o poder gera mais dinheiro. Esse é um círculo verdadeiramente vicioso.
Uma política de mudança infalível necessariamente envolveria fazer as pessoas da classe média perceberem os seus próprios interesses económicos. Se votarem nos seus próprios interesses, elegerão pessoas que provavelmente estarão mais alinhadas com as pessoas com rendimentos mais baixos e também com elas. Enquanto as pessoas da classe média se identificarem mais com as pessoas do topo do que com as de baixo, estamos condenados. A quantidade obscena de dinheiro que corre para o processo eleitoral torna as coisas ainda mais difíceis.
Mas a história mostra que o poder popular, às vezes, vence. Foi o que ocorreu na Era Progressista, há um século, e na Grande Depressão também. A desigualdade bruta daqueles tempos produziu uma amálgama de insatisfação popular, organização, jornalismo sensacionalista e liderança política que atacaram os grandes - e crescentes - problemas estruturais da desigualdade económica.
O movimento pelos direitos civis mudou o curso da história e expandiu-se para o movimento das mulheres, o movimento ambientalista e, mais tarde, o movimento pelos direitos dos gays. Será que poderíamos ter dito no dia anterior à aurora de cada um deles que ele ocorreria, para não dizer que teria sucesso? Será que Rosa Parks sabia? Nós temos os ingredientes. Em primeiro lugar, a demografia do eleitorado está a mudar. As consequências disso não serão automáticas, por certo, mas criam uma oportunidade. A nova geração de jovens - em geral desiludidos com o poder encrustado em todas as instituições e, por isso, tendentes ao libertarismo - está madura para uma nova política da honestidade. As pessoas de baixo rendimento participarão se houver candidatos que falem das suas situações. A mudança precisa vir de baixo para cima e da liderança sinergética que a extrai. Quando as pessoas decidem que não aguentam mais e há candidatos que defendem o que elas querem, elas votarão de acordo com isso.
Já vi dias de promessas e dias de escuridão, e vi-os mais de uma vez.
A história é toda assim. As pessoas têm o poder se o usarem, mas precisam perceber que isso é do seu interesse.
*Peter Edelman é professor de direito na universidade de Georgetown e autor, mais recentemente, de "So rich, So poor: Why it's so hard to end poverty in America?” ("Tão rico e Tão pobre: Porque é tão difícil acabar com a pobreza na América?")
Claro que as causas da pobreza nos EUA, não tem nacionalidade, nem é endémica e hoje em dia estão espalhadas por todo o mundo, principalmente nos países mais ricos, produzindo os mesmos efeitos (claro!), pela simples razão de se terem implantado as mesmas políticas liberais e neoliberais, cujas consequências são estas. E tudo porque a ocidente e a oriente o “sonho americano” foi sonhado por toda a gente, sem terem consciência de que um sonho não é a realidade…
Da análise de Peter Edelman, mesmo deixando números e percentagens de fora, a primeira e relevante causa da pobreza crescente, bem como na Europa, é o CRIME de se pagar tão pouco a quem trabalha (com a conivência e até a iniciativa de governantes), que nem chega para a sobrevivência, aumentando-se a percentagem da apropriação das mais valias dos “promotores” (patrões) e reduzindo-lhes ainda todas as comparticipações para a Segurança Social (e impostos) e cortando todos os direitos dos que são empurrados para as situações de miséria. Tudo previamente planeado.
Não deve ser de todo inocente, que o articulista cite Ronald Reagan (presidente desde 1981 a 1989), um dos mais ferozes inimigos dos fracos e muito amigo dos fortes, que acabou por falecer com Alzheimer, sem se saber quando começou a doença (diz-se que em 1994)…
E o mal é que deixou seguidores, no seu país e em tantos outros (com a sua partenaire, Margaret Thatcher à frente da legião), que perpetuam ainda hoje o sofrimento dessas (in)consequências.
Todos os governantes deveriam ser obrigados a fazer testes periódicos de sanidade mental e psicológica, porque a História só nos projeta heróis de pés de barro e cabeças loucas…
Por isso, e sabendo que dinheiro gera poder e o poder gera mais dinheiro e que isso é um círculo  vicioso e verdadeiramente viciado, não é com pacifismo que ganharemos a paz com estes pobres de espírito…

Sem comentários:

Enviar um comentário