(per)Seguidores

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

OPOSIÇÃO precisa-se! SEGURA! A bem das pessoas…

António José Seguro comunicou aos membros da Comissão Nacional do PS a sua discordância em relação a "alguns pontos do memorando" assinado com a troika. O atual secretário-geral dos socialistas sublinhou o facto de não ter sido ele quem "negociou" ou "assinou" o programa de assistência. Garante por outro lado que o PS "vai honrar os compromissos" e prosseguir a prática de uma "oposição responsável e construtiva".
Pois! E então em que ficamos?
O PS recusou hoje qualquer "alinhamento" com a receita de austeridade do Governo e reiterou o seu compromisso "com os objetivos do crescimento económico e emprego", garantindo que respeitará o memorando da troika.
Claro! O memorando da troika é da troika, o programa do governo é do governo, a austeridade do governo é maior do que a austeridade da troika e a omissão de “objetivos do crescimento económico e emprego” da troika também é omissão de “objetivos do crescimento económico e emprego” do governo… Logo!
O primeiro-ministro disse não estar preocupado com eventuais divergências do líder do PS relativamente a alguns pontos do memorando de entendimento, afirmando que António José Seguro se tem comportado "de forma alinhada" e revelado "sentido de responsabilidade".
Nota-se, que o chefe da OPOSIÇÃO alinha com o chefe do GOVERNO, sem se perceber qual o sentido de responsabilidade de um e de outro, mas o futuro próximo ha de mensurá-lo…
O secretário-geral do Partido Socialista voltou a criticar o primeiro-ministro. Além de lamentar o fim da tolerância de ponto no Carnaval, Seguro acusou o Governo de ter baixado os braços e de só se mexer para... nomear os ‘boys’.
Dito assim, parecem faits divers, mas não se fazem guerras sem sargentos lateiros, nem se constroem pirâmides sem escravos…
António José Seguro tem uma tarefa ingrata. Herdou uma bancada cheia de deputados escolhidos por José Sócrates, que Marques Mendes baptizou de “tralha socrática”, e tem ainda por cima de fazer oposição a um programa de Governo PSD/CDS que o próprio PS negociou com a ‘troika’.
Obrigado a fazer a quadratura do círculo, António José Seguro é forçado a multiplicar-se por vários personagens, na tentativa de sobreviver politicamente dentro e fora do partido.
O primeiro desses personagens, chamemo-lo de António, tem um perfil mais responsável e um sentido de Estado mais apurado. É aquele que, segundo as palavras do próprio António, quer fazer uma "oposição honesta, responsável e séria". O António é amigo pessoal de Relvas, dá-se bem com Passos e os socráticos não o suportam. Quer alterar as regras de adesão de militantes para erradicar os "sindicatos de voto" e o "caciquismo". O António é homem para convidar Carrilho para o laboratório de ideias e não ter medo de sarilhos no partido. Absteve-se no Orçamento do Estado e é candidato às eleições legislativas de 2015.
O segundo desses personagens, chamemo-lo de José, sonha com São Bento, mas está apenas a concorrer a eventuais eleições no Congresso do PS em Setembro de 2013. Não se importa de esticar a corda para agradar a meia dúzia de deputados não alinhados, mesmo que isso lhe custe perder a credibilidade política. E tem pesadelos com os fantasmas do António, o Costa, e do José, o Sócrates.
O terceiro desses personagens, chamemo-lo de Seguro, é o mais inseguro de todos. É aquele que quer agradar a gregos e a troianos. É aquele que discorda do Orçamento, mas não arrisca pedir a sua fiscalização sucessiva. O Seguro é capaz de, no mesmo diploma que previa o corte dos subsídios de férias e de Natal, abster-se e votar contra. O Seguro é capaz de ir buscar o conciliador Zorrinho à ala socrática para chefiar a bancada, mas, talvez por medo, deixa figuras de peso do PS sem assento nos órgãos do partido. O Seguro é aquele que este fim-de-semana veio dizer que vai honrar o memorando, para na frase seguinte dizer “Eh pá, mas não privatizem as redes”.
Mas sejamos justos. António José Seguro foi um dos primeiros a pedir mais tempo para a consolidação orçamental, uma ideia que começa a ganhar adeptos entre os economistas; pôs o dedo na ferida quando pediu uma linha de financiamento do BEI para as PME; e foi um dos que nunca desistiu de bater nas teclas do crescimento e emprego, ainda antes de a moda ter pegado.
Mas o País precisa de mais António e menos Seguro, para continuar a ter uma oposição responsável, e uma dose de José o quanto baste para não perder (ainda mais) o partido.
Pedro Sousa Carvalho, Subdirector do Jornal Económico

2 comentários: