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quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Um Homem de cor, que pintou a VIDA com CORES

Conhecido pelos seus quadros, o artista moçambicano antes apanhador de bolas, criado, pastor, empregado de bar. Lutou activamente pela independência de Moçambique, foi preso pela PIDE, torturado, juntou-se à FRELIMO, foi deputado e recebeu inúmeros prémios.
Em 1997 foi nomeado Artista pela Paz, tendo o director da UNESCO descrito Malangatana como “muito mais do que um artista, alguém que demonstra que existe uma linguagem universal, a linguagem da Arte, que permite comunicar uma mensagem de Paz”.
Malangatana, um dos moçambicanos mais famosos, nasceu a 6 de Junho de 1936, em Matalana, numa povoação do distrito de Marracuense, a 40 quilómetros de Maputo.
Estudou na escola da missão suíça de Matalana e na missão católica de Ntsindya. Frequentou o Núcleo de Arte e a escola industrial em Maputo, tendo sido bolseiro da Gulbenkian ainda antes da independência de Moçambique.
As suas obras encontram-se espalhadas pelos quatro cantos do Mundo como África, Europa, Estados Unidos, América Latina, Índia e Paquistão.
Começou a desenhar ainda em criança com carvão ou com outros materiais que tivesse à mão. Sentia-se preso na pintura até Augusto Cabral, seu patrão no clube onde era apanha bolas, o ter descoberto e apostado em si, dando-lhe material, desafiando-o a pintar o que lhe ia na alma.
Aproveitou o dinheiro da venda dos seus primeiros quadros, há 50 anos, para comprar uma casa em Portugal e trazer a família de Maputo. Mas a sua carreira não se ficou pela pintura, tendo também feito cerâmica, tapeçaria, gravura e escultura. Experimentava areia, conchas, pedras e raízes. Homem das artes, foi ainda poeta, actor, dançarino e músico.
Lutou na Frelimo e foi preso pela PIDE, mas continuou sempre a pintar, com os seus desenhos a sair da cadeia escondidos em garrafas que a sua mulher transportava.
Recebeu o prémio Príncipe Claus e a medalha da Ordem do Infante D. Henrique.
O arquitecto Pancho Guedes realça que o pintor era único, sublinhando que a sua morte é uma "terrível" perda.
A ligação entre ambos era grande. No início da sua carreira, Pancho Guedes disponibilizou um espaço para pintar na garagem e comprava dois quadros por mês a preços inflacionados a Malagantana.
Também o candidato presidencial Manuel Alegre lamentou a morte de Malangatana, afirmando que desaparece “Um bom amigo, um grande pintor que trouxe as cores de África até nós e que com a sua maneira de ser, a sua convivência contribuiu também para aproximar culturalmente Portugal e Moçambique, as nossas culturas”, disse.
Elísio Summavielle, Secretário de Estado da Cultura, afirma que a morte de Malangatana é "uma perda muito grande para o mundo lusófono".
Para o Secretário de Estado, o pintor moçambicano era não só "uma figura universal na área das artes, com uma obra muito vasta", mas também um "grande homem e um resistente anti-colonial".
Actualmente está patente uma exposição de desenhos e esculturas de Malangatana na Casa da Cerca, em Almada.
Na exposição da colecção de obras africanas do arquitecto Pancho Guedes, no Mercado Santa Clara, em Lisboa, também estão patentes algumas pinturas do começo da carreira de Malangatana.
"É uma notícia muito, muito triste. Moçambique teve em Malangatana uma espécie de embaixador permanente da cultura pela projecção que deu ao país. Moçambique é hoje mais e melhor conhecido em grande parte pela obra do Malangatana", afirmou Mia Couto.
 Para Mia Couto, Malangatana afirmou o princípio de uma cultura sem fronteiras, com dignidade e sem agressões por outras raças e culturas.
"Entendia que as culturas eram mulatas. É um enorme vazio a sua morte, mas deixa um grande legado", acrescentou Mia Couto.
Conheci ao vivo Malangatana, em várias “Correntes d’Escritas” em que participou. Homem simples, enorme artista, criador com qualquer material, sempre alegre e expressivo.
Anti-académico, mas adorado pelos académicos, contundente, mas compreendido por todos que o ouviam, exuberante, mas admirado pelos mais recatados, multicriativo e multifacetado, sem complexos…
Enorme! E enorme perda para a Lusofonia.
Obrigado Malangata pela alegria das cores com que pintou a VIDA, que ficará como epitáfio.

2 comentários:

  1. Ainda não consegui digerir a morte do Malangatan, tanto que nem a referi no meu canto.
    foi um desgosto grande...

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  2. Ema
    Quem o viu como eu, desenhando com café, cantando, dançando e discursando contra os Doutores e aplaudido pelos mesmos.
    Mas talvez tivesse nega no PISA.

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